segunda-feira, 18 de março de 2024

Sobre Godel e Pascal - Um soneto


Indemostrabilidade


Sutil contemplação da natureza,
Tu não podes ser epistemológica,
Pois é inconsistente à beleza,
Uma demonstração pela lógica.

Na função inversa da resposta,
Tu vens encher-me de incertezas,
Como eu canso de procurar supostas,
Contradições na tua clareza.

Pego à mão todas as ciências,
Pergunto para à omnisciência,
Qual é a tua constituição?

Ela diz: eu sou a formidável,
A conjectura indemonstrável,
Teu esforço último da razão.

Contexto:

        Escrevi esse poema pensando nos Teoremas da Incompletude de Gödel. Gödel demonstrou rigorosamemte que a matemática, mesmo na sua forma mais pura, a lógica aritmética, não está livre de contradições. Uma eterna incompletude. Como demonstrou? Pela contradição infinita da autoreferência. A conclusão do Teorema, na minha opinião, eleva o contraditório ao exemplo mais belo do pensamento humano. É difícil suportar contradições, eu já fiz muita gente sofrer profundamente por ser contraditório (leia-se falso). Mas é prazerosa a descoberta do infinito possibilitada através das contradições. 
        Saber que nunca saberemos tudo o que pode ser sabido me faz idolatrar a dúvida. O destino final é que não existe destino final. Incompleta sempre. Jamais perfeita, jamais fechada, sempre idelimitada, tal qual nosso pensamento, o único sistema capaz de suportar uma contradição. 

        O ser humano é definido pelo contraditório. Se o conhecimento fosse finito, que faríamos nós se o encerrássemos? Encerrariamo-nos ali!

Louvado sejam os Teoremas da Incompletude de Godel, autor da mais profunda Crise Existencial, senhor da contradição, da eterna incompletude.
        Viva eternamente, Gödel.

sábado, 16 de março de 2024

Soneto - Paraboloide Hiperbólico




Um matemático sexagenário,
Nomeou um objeto, melancólico,
Chamou paraboloide hiperbólico,
Foi adicionar ao dicionário.

“Essa matriz combinatória prova,
Em espaço de sílabas versoriais,
A forma das soluções integrais,
Que nomeiam a palavra nova.”

Disse o velho este lero-lero,
Soando igual divisão por zero,
Em sílabas gramaticais sebosas,

Pois o inverso fenomenológico,
Dito hiperboloide parabólico,
É outra palavra libidinosa.

Soneto (Anjos Augusto)

 

Canta teu riso esplêndido sonata,
E há, no teu riso de anjos encantados,
Como que um doce tilintar de prata
E a vibração de mil cristais quebrados.

Bendito o riso assim que se desata
- Citara suave dos apaixonados,
Sonorizando os sonhos já passados,
Cantando sempre em trínula volata!

Aurora ideal dos dias meus risonhos,
Quando, úmido de beijos em ressábios
Teu riso esponta, despertando sonhos...

Ah! Num delíquio de ventura louca,
Vai-se minh'alma toda nos teus beijos,
Ri-se o meu coração na tua boca!

Soneto em andamento: Onironalta

Onironalta da omnisciência, 
O que desejas sonhar?
Olhe fundo para a consciência,
Qual inconsciente queres libertar?

Os sonhos através das crenças,
Em murais insanos de sentimentos,
Mostram à mente os tormentos,
E desejos de estórias intensas.

Se exibem durante a noite, esses 
Fantasmas que se escondem se olhados 
Ando me perguntando, 
meu Deus do céu,
com o que eu ando sonhando?