O idealismo transcendental é uma terminologia formulada por Immanuel Kant que diz ser possível adquirir conhecimento de acordo com a sensibilidade do ser. Para entender isto é necessário saber que Kant considera inacessível à razão os objetos como eles realmente são. Isto significa que Kant considera qualquer objeto algo transcendental, mesmo que seja um objeto ordinário, ele transcende o que você acredita que ele é. Logo, quaisquer objetos que queiramos alcançar com o conhecimento estão para além da cognição humana, de forma que sempre falamos deles de forma aproximada. Para Kant, sequer temos a capacidade de concebê-los. Partindo disso, Kant separa as faculdades do pensamento em duas instâncias, os sentidos e o entendimento. Em suas palavras:
“Nenhuma destas faculdades
tem prioridade sobre a outra. Sem os sentidos, nenhum objeto nos seria dado, e
sem o entendimento nenhum objeto poderia ser pensado. Pensamentos sem conteúdo
são vazios, consciência sem conceitos é cega [...] O entendimento não pode
perceber e os sentidos não podem pensar coisa alguma. Somente quando se unem,
resulta o conhecimento.” [1].
Definidas estas duas faculdades, Kant inicia a sua lógica transcendental, que incorpora o racionalismo e o empirismo. Kant, concorda com os dois quando afirma que as ideias, para existirem, precisam passar pelos sentidos, mas para fazer sentido, elas necessitam de uma estrutura, e esta estrutura do pensamento nasce conosco. De um lado ele concorda com os racionalistas, ao dizer que nascemos com algo, por outro lado ele concorda com os empiristas, quando diz que as ideias somente podem ser obtidas através dos sentidos. A diferença é que ele assume a simultaneidade de ambas no tempo, nenhuma precede a outra, e uma não faz sentido sem a outra.
E o que é a lógica transcendental? É imaginar que o objeto, antes dele ser sentido e pensado, é transcendente. Apenas após passar por nosso intelecto é que obtemos uma ideia aproximada do que ele é. No entanto, isto varia com a sensibilidade de cada um. Alguns exemplos podem ser pensados sobre a sensibilidade, vejamos alguns.
Para o seu cachorro uma lâmpada fluorescente está piscando constantemente, pois o tempo de permanência da luz na retina dele é diferente do tempo de permanência na nossa retina. Se você já olhou para uma lâmpada fluorescente e teve essa impressão, de que ela estava piscando bem rápido, para alguns animais, ela realmente está. Em termos de coisas que não nos são sensíveis, boa parte está nos efeitos de ondas eletromagnéticas. O wifi não existe para nós, apenas para os sensores dos nossos smartphones. O céu não é azul para os pássaros, é violeta, dado que eles enxergam em outra faixa do espectro. A noite não é silenciosa para os morcegos, é infestada de ecos agudos. E os insetos têm um senso estético de beleza super aguçado, pois as plantas desenvolveram flores multicoloridas com infinitos cheiros e sabores no intuito de cativá-los. Isto bem antes de que o ser humano sequer existisse para filosofar sobre o que é belo.
[2] CARHART-HARRIS, Robin L. et al. Neural correlates of the LSD experience revealed by multimodal neuroimaging. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 113, n. 17, p. 4853-4858, 2016. Disponível em: <https://www.pnas.org/content/113/17/4853> Acesso em: 17/09/2021.
[3] CARHART-HARRIS, Robin et al. Trial of psilocybin versus escitalopram for depression. New England Journal of Medicine, v. 384, n. 15, p. 1402-1411, 2021. Disponível em: <https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2032994?> . Acesso em: 08/09/2021.
[4] NUTT, David J.; DE WIT, Harriet. Putting the MD back into MDMA. Nature Medicine, v. 27, n. 6, p. 950-951, 2021. Disponível em: <https://www.nature.com/articles/s41591-021-01385-8>. Acesso em: 08/09/2021.
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