sexta-feira, 28 de julho de 2023

Sobre o vício e a mente

Você é viciado em alguma coisa? Eu sou. É complicado explicar o vício porque ele é um fim em si mesmo. O vício se manifesta no Pensamento obsessivo: o objeto de vício torna-se o foco principal dos pensamentos da pessoa, frequentemente eclipsando outras áreas da vida.

Eu acredito que não existe um objetivo intermediário no vício, o pensamento se faz de um jeito ótimo que apenas realimenta a própria necessidade, tal qual um programa em loop infinito que cresce e aumenta cada vez mais o consumo de memória. Nesses dias, estava pensando em como isso é parecido com o Transtorno Obcessivo Compulsivo (TOC). Também tenho TOC, o convívio com ele até hoje me faz se perguntar qual é a explicação disso. Nenhum TOC se justifica na sua ação, ela simplesmente acontece e você não consegue parar. Isso não se justifica logicamente. O ato acontece sob ansiedade, é certo, mas parece ignorar qualquer pensamento racional sobre ele. Existe como um vórtice que cresce se você fica parado. 




Dentro de nossa mente se entrelaçam infinitas engrenagens. Medições de quando um pensamento começa e termina, por Tseng e Poppenk, estimam que uma pessoa tenha cerca de 6,2 mil pensamentos por dia. Acredito que esse pensamentos, assim como loops complexos dentro de programas de computador, ocasionsmente se entrelaçam com outros, de forma que se retroalimentam ad infinito, gerando o vício. Tudo o que esses pensamentos tocam entra no loop, como se fosse capturado gravitacionalmente em torno de um corpo, descrevendo ciclos viciosos que corrompem cada vez mais os penssmentos. Como descer num vórtice. Antes de escrever esse texto puxava meus cabelos, esse é meu TOC, mas não faço mais isso nesse momento. Os penssmentos se deslocaram para outros circuitos de ideias, as quais ponho aqui conforme elas chegam à minha consciência. O foco foi deslocado, agora escrevo com atenção ao meu TOC, e, ironicamente, escrever sobre o TOC me livrou dele. 

Contudo, ainda sinto a vontade de mecher no cabelo. Ela nunca some, está sempre ali, não sei explicar, provavelmemte vai fazer parte de mim até à morte. Começou quando ainda aos 10 anos, como poderia ir embora se cresceu comigo? É melhor aceitar que faz parte do meu ser, o que não impede, por exemplo, que eu tenha esperanças bem sólidas sobre uma mudança de comportamento quanto a isso. A mente é extremamente flexivél, uma mente pode ser alterada, basta mudar ao quê ela é exposta. Expor-se a substâncias psicadélicas é arriscado, mas desconfio que o efeito por mim desejado, a Dissolução do Ego, somente pode ser alcançado assim. Também me dão esperanças o fato de que já consegui mudar meus pensamentos a respeito do TOC, ao ponto de que na maioria dos momentos de minha vida, ele já não incomoda mais como na adolescência.

Existem estudos com evidências de que a Dissolução do Ego é capaz de fazer pessoas se livrarem de vícios. No artigo anterior a esee, eu argumento que rotacionar uma consciência é equivamente a usar psicodélicos para mudar o seu ponto de vista. Tudo aquilo que rotaciona se torna mais estável, consequentemente, acumula energia sem sair do lugar. É um mover-se sem se mover sem fim.

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