quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Sobre a Crise Existencial - Um soneto

Escrevi esse poema pensando nos Teoremas da Incompletude de Gödel. Gödel demonstrou o preço que a matemática paga para ter consistência: uma eterna incompletude. Como demonstrou? Pela contradição infinita, literalmente! Tão literal que escreveu em aritmética. Preto no branco, tão sólido quanto 2+2 é 4, e por isso se chama Teorema (o espetáculo!). A conclusão contraditória do Teorema elevou o contraditório ao extremo no pensamento lógico. Se é prazerosa a descoberta, melhor ainda se demonstrarem que ela é infinita.

Saber que nunca saberemos tudo o que pode ser sabido me faz idolatrar a dúvida. O destino final é que não existe destino final. Ela é incompleta sempre! Jamais perfeita (do latim per fecto, totalmente feito). Jamais fechada. Sempre idelimitada, tal como é nosso pensamento. O único sistema capaz de suportar a contradição. Não a toa o ser humano é definido pelo contraditório.


Se o conhecimento fosse finito, que faríamos nós se o encerrássemos? Louvado sejam os Teoremas da Incompletude de Godel! Autor da mais profunda Crise Existencial! Senhor da contradição e da Incompletude.
Viva eternamente, Gödel.



Crise Incompletudinal 

Cansado de procurar a suposta
Contradição de maior pureza
Na função inversa da resposta
Me abraço com a incerteza.

Sutil contemplação da natureza
Nunca serás epistemológica,
Pois é inconsistente à beleza
Uma demonstração pela lógica.

Mãe metafísica das ciências
Pergunte para a omnisciência
Se conheces o indemonstrável

Pois de certo o mais formidável 
Esforço último da razão
É a incompletude da contradição.


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