quinta-feira, 13 de junho de 2024

Sobre as árvores

Para conversar com as árvores é preciso um cigarro. Só quando se está livre dos pensamentos é possível conversar com elas. Tudo desaparece, a biologia, os sentidos rápidos. Assim encaro as árvores como os seres mágicos que realmente são.


Tudo sabem esentem no seu perímetro, seres sábios, autosuficientes, profundamente conscientes da Terra e do Sol. Tão completas que nunca fazem filosofia. Ou se fazem, não sabemos. Basta-lhes que o sol exista para que possam existir. Em teu sagrado lugar, árvore, tu reina e es capaz de passar séculos ali! Séculos só existindo no mesmo lugar!

Possuem a forma dos fractais.

O quão lúcido Godel estava quando disse que são os seres mais inspiradores que existem. Se a reincanarção for verdade, que eu volte ao mundo como uma árvore. Quero saborear a Terra e o mundo em profundas raízes. Quero ter milhões de folhas para sentir o Sol em toda parte, centenas de galhos para me espalhar pelo espaço e raízes sinuosas que façam os chãos racharem. 


Mato insetos e não sinto absolutamente nada. Mas se uma raiz é arrancada do solo, me parece que rasgam o próprio mundo. Que pecado é arrancar uma árvore de seu sagrado lugar. 




terça-feira, 11 de junho de 2024

Inspiração do mundo opaco

Filosofias, versos vaidosos, pensamentos que imagino só eu ter pensado. Tudo isso escrevo. Billhões pensam todo dia mil milhões de coisas, e o quê, dentre todas estas coisas, terão meus pensamentos de especiais?

Vejo-me defronte a uma propaganda que escandaliza da pior forma aquilo que mais quero. Esse espéctro faminto se infiltra por toda parte, como demônios, conhecem todos os nossos desejos e alimentam-se da nossa solidão. São insaciáveis por natureza, pois sua origem é o capital. 

Juntos a estes miseráveis anúncios está sempre associada alguma tecnologia ou ciência de ponta. Quando isso me é apresentado, sinto como se um raio partisse a minha mente, matando em mim toda a inspiração que alegremente obtive sem querer obter. Mas toda vez que quero escrever, preciso passar por este inferno. 

De frente para a tela me torno fosco igual a ela. Reflito amargamente por só escrever coisas úteis. Queria poder escrever coisas inúteis, coisas que tornassem insanas mais ilúcidas mentes apagadas pelo contidiano, coisas que inpirassem sonhos incestuosos e utopias anárquicas em regimes totalitários.

Como um amante da tecnologia, sempre idolatrei a ciência, a matemática e a engenharia, mas hoje desejo me libertar da ciência para qual dediquei a minha vida. Que respostas eu encontrei? Tudo o que acho são ainda mais perguntas do que respostas, mais crises do que crenças, mais incertezas do que convicções. Isso gera em mim um relativismos que arranca tudo do lugar, em nada consigo ser consistente porque em nada encontro o inabalável. 

Estou saturado de tanta metafísica, exausto de pensar essa vida logicamente. Boa parte da vida fui insensível, estúpido ao ponto de procurar sentido em músicas e poesias. Eu quero ouvir o Abujanra recitar Tabacaria no Jornal Nacional. Surtar falando com árvores que o melhor da vida é inexplicável.  Explicar como ser uma árvore e florescer em todos os planetas do sistema solar.

Em sonhos sempre me vejo adolescente ou criança. Ali nunca fiz filosofias. Se fiz, não percebi que fazia. Queria viver novamente aquele período e se apaixonar por personagens fictícios. Morrer de amor pelo banal.

Queria ficar doente e sentir o cuidado dos pais. Os problemas do mundo, os prazos, as burocracias, são todos pequenos diante de uma música ou de um cigarro. Fumar é ter a liberdade de não pensar em nada, somente sentir.

Penso que a Palestina e os isrraelenses vão todos se matar dando início a uma terceira guerra mundial, mas não sinto nada. Na verdade, torço para que a Europa toda se exploda. O velho mundo afunde e não caia um só pedaço no meu quintal. Os que nunca entraram numa guerra deveriam ser postos numa jaula para lutar até a morte contra crianças. 

Eu sou jovem ainda? Não. Mas tenho a força de um jovem, a burrice e sensibilidade de um adolescente. E quando chegar aos cinquenta anos, sentirei saudade dos 28, aí perceberei que hoje eu sou um covarde, para quando chegar aos 50, dizer que preciso de mais 20 anos para respeitar a vida.

Adulto de mente adolescente. Quero ser velho com mente de criança. Andar na beirada de um poço, se pendurar na beira de um penhasco. A salvação é pelo risco, sem o qual, a vida não vale a pena.

domingo, 9 de junho de 2024

Sobre a Dor - Ingrediente Mágico

Ingrediente Mágico

Todo poeta é um vagabundo,
Ele tem mesmo é que se foder,
Para expressar a dor do mundo,
Apaixone-se cedo com o sofrer.

Até sentimentos improfundos,
Devem em ti causar vaidosa dor,
Pois este é teu pano de fundo,
E dos poemas, o catalizador.

Os que sofrem pouco nesta vida,
Têm a inspiração desprovida,
Da salgada lágrima de choro.

Ignoram o ingrediente trágico,
Da poção, o acréscimo mágico,
Dos poetas, o supremo ouro.


A vaidosa dor.
 
Arte artificial.
"The fallen angel of the abyss, Lucifer, weeping with shattered stars in the background, featuring dramatic lighting in the art style of Alexandre Cabanel"

quinta-feira, 6 de junho de 2024

Sobre a mediocridade - O fracasso é libertador

Somente pode-se começar algo sendo medíocre. Nisto você terá toda a liberdade do mundo. Você é livre para ser medíocre no que quiser, mas não é livre para ser bom no que quiser. Para dar luz a algo significante ninguém pode ser feliz durante o parto.

Fracassar, fracassar centenas vezes. Idolatrar a dor. Lutar como entre a vida e a morte. Perseguir um objetivo como um fanático busca por Deus. Descobrir que Deus pode não existir e suportar o peso da indiferença do universo. A possível não existência da resposta. Contentar-se em nunca chegar ao fim.

Talvez, saber que o fim não existe, mas procurá-lo mesmo assim.

domingo, 2 de junho de 2024

Sobre não pensar

Fumar maconha boa, de qualidade,

É um dos segredos da felicidade.

Falar, tomar café e dar uma cagada,

Nisto toda a vida é renovada.


Soneto - Panificadora

Resolvi escrever um Soneto,
Chamei-o de Panificadora,
Para falar dos desassossegos,
Que me causa Fernando Pessoa.

Escreveu ele Tabacaria,
Escrevo eu Panificadora,
No café sutil das hiperestesias,
A alucinação me aperfeiçoa.

Fumo, sento-me na praça a tarde,
E pelo espelho da modernidade,
Vejo girar a alma dos carros,

Ali sinto que Augusto dos Anjos,
Pessoa, Euclides e outros tantos,
Viram Deus na fumaça de um cigarro.

sábado, 1 de junho de 2024

Sobre One Punch Man - A ironia do infinito

One Punch-man é um manga espetacular que explora a ironia do existencialismo diante daqueles que se deparam com o poder infinito. 

Após procurar por emprego, Saitama, personagem principal, ficou careca e se tornou tão forte que resolveu trabalhar como herói. Nosso herói por profissão - no manga é uma profissão - é tão forte que não consegue sentir prazer em nenhuma das lutas que se envolve, contudo, continua sendo uma pessoa extraordinariamente normal.

One Punch Man é a maior lição de humildade que já vi em alguma obra. A série investe no clichê dos contos heróicos, apresentando vilões e heróis que enchem o peito para discursar sobre suas motivações vaidosas. Heróis bonitos, de cabelos longos, com força sobre humana, alguns rápidos, outros frios, do clássico velho mestre de artes marciais ao ser supremo de outro universo, One Punch Man mostra que no fundo, Eclesiastes estava certo "Vaidades das vaidades, tudo é vaidade."


No sistema do governo, que separa os heróis em classes bem explícitas de poder, está implícita uma forte crítica ao que é o ideal de heroismo. Os autores da série fazem questão de mostrar que o sistema é corrupto e injusto. Alguns heróis famosos são escrotos e se preocupam demais com status, enquanto um dos mais fracos apresenta forte determinação. Contudo, mesmo os heróis que aparentam ser justos, em algumas situações - quando ninguém está olhando - mostram que também buscam por poder e reconhecimento, mesmo se esforçando para demonstrar o contrário.

No meio disso tudo está nosso protagonista principal, Saitama, que está mais preocupado em saber qual é o dia da promoção de carne no supermercado. 

Saitama é uma espécie de personagem que não possui vaidades, mas apenas porque ele próprio não têm conciencia disso, pois caso refletisse sobre, é bem provável que se vangloriasse por ser um total desconhecido.

Entenda: se orgulhar de não ser vaidoso, também é ser vaidoso! Esse é o paradoxo da vaidade que inspira a primeira frase do texto de Eclesiastes. Se orgulhar de fazer o bem, querer que os outros vejam o quanto você é honesto, buscar qualquer tipo de reconhecimento, não importa o quão boas sejam suas ações, é ser vaidoso. Por isso Santo Agostinho disse que por vaidade também é possível obrar o bem, embora esta seja, segundo São Tomás de Aquino, a origem de todos os outros pecados.


Ao longo da série, Saitama acaba se envolvendo com vários herois e vilões que se escandalam diante da sua força intangível. As reações, seguidas de morte, caso você seja mal, são dignas de nota. Primeiro, porque ao se deparar com algo que os supera infinitamente, vilões e heróis se dão conta de suas vidas insignificantes. Segundo, porque diante da força irrazoável de Saitama, não importa o quanto você sofreu ou se esforçou, ninguém tem o direito de ser um cuzão com os outros. Caso você seja, um soco na sua cara resolverá o problema, e apenas 1, caso ele queira.

Para os heróis, de vaidade superior a dos vilões, é ainda mais cômico observar suas reações, pois quase todos na série se acham mais importantes do que são.

Um dos heróis, um ciborgue chamado Genos, quando viu o soco de Saitama pela primeira vez, quase teve uma sindrome de Sthandal (estado de êxtase diante da arte capaz de fazer você desmaiar). Como resultado, Genos observa, anota e segue cada ação de Saitama, implorando-o para que lhe adote como um discípulo. Contudo, Saitama não é exemplo para absolutamente nada, não fonte de valores, pois não está ciente da sua própria condição de humildade, nem é fonte de conhecimento, pois ele não sabe como conseguiu a própria força.


O tédio de Saitama se tornou muito profundo, para ele não faz sentido mostrar a alguém que é forte, chega ao ponto de ele nem mesmo se importar que outra pessoa receba todos os méritos por as suas vitórias (King, estou falando de você). Tudo isso é extremamente cômico de se assistir, pois as situações são encaixadas de forma genial na trama de um Careca, que a propósito, não gosta de ser chamado de careca (lhe entendo, Saitama, pois fiquei calvo aos 25 anos).


Um dos vilões da série me chocou de forma hilariante. De forma bem verossímil, sua motivação para o mal foi procurar por emprego. Quem já ficou sem emprego conhece o desespero e o desrespeito que passamos se prostituindo das piores formas possíveis para conseguir um sustento digno. É muito pior do que qualquer vestibular. No reino das empresas, você nem sabe se passou.


One Punch-man explora de forma maravilhosa o prazer que temos ao ver a humilhação dos arrogantes. Lembro de Eclesiastes e a vaidade me ataca, pois o escândalo dos grandes caindo do pedestal é algo que me enche de alegria. Despencar no abismo do nada, conhecer o fundo do oceano, se embasbacar diante do infinito. Reduzir tudo ao insignificante. Retornar ao pó. Do herói ao vilão mais poderoso, One Punch-man é extremamente cômico ao mostrar as crises que nosso querido Careca de Capa desperta nos outros ao mostrar que do mais simples dos personagens surgem as maiores surpresas.

 

Não sei como terminar esse texto, mas faço um brinde ao nosso herói careca. Sem detalhes espalhafatosos. Anônimo. Que não incomoda ninguém. Tão simples que pode ser desenhado por uma criança, e apesar disso, One Punch Man tem das uma artes mais magníficas que já vi na vida.

A propósito, a recriação mais realista do  núcleo de um planeta gasoso foi desenhada por Yusuke Murata. E eu falo isso com propriedade, pois meu TCC foi sobre dinâmica planetária.