terça-feira, 14 de maio de 2024

Sobre o Desassossego de Pessoa

É certo que Pascal, Pessoa e Eclesiastes, chegam, por meios distintos, nas mesmas conclusões, que não concluem nada. Nem sabem se chegam, ser chegada no indestino, uma ponte construída entre dois mistérios, onde o início e o fim das coisas não podem ser concebidos. Sabemos todos que morreremos, mas e se ficamos? Saímos da vida? À vida nem mesmo podemos dizer se realmente existimos ou se ela sonhamos.

Caímos! Todos no mesmo vazio existencial. Sustentamos diferentes visões, que podem não ser nossas, poder ser sonhos sonhados por outro, e mesmo assim você faz as mesmas perguntas: para onde vamos? Quem sabe vamos desaparecer em contradições que não entendemos num universo que não concebemos. Somos lógica contida na matéria, estranha matéria capaz de contorcer-se com a não dor física do pensamento, que buscando as origens do pensar sente dissolver-se em gradientes cinzentos de devaneios. Dores da razão, como uma solução panteisticamente espalhada pela eternidade na esfera de raio infinito cuja superfície não se observa e o centro está em toda parte. Não se encontra, não sabe nunca, não consegue ser nada e nem o nada consegue definir. 

Sofrerá até a morte do universo, quando todos os nossos átomos se desintegrarem, quando o tempo não puder mais ser medido, quando de nós restar somente a energia indistinguível de tudo mas que nada realiza, aí, talvez, o próprio universo reinicie na flutuação mínima da mesma pergunta: porque existe algo inves de nada? No vazio e do nada, do início de qualquer coisa surgida, ali estará a tua resposta, Pessoa, que levou a eternidade para se fazer, no infinitésimo do espaço e no vácuo do tempo, alguma coisa deixou de ser para se tornar outra coisa. E depois? Pensar, pensar tudo de novo em milhões de mundos simultaneamente, em todos os seres, ver o universo fatigar-se de ser tudo para às mesmas conclusões: nem uma coisa nem outra. Apenas sonhos, sonhos da matéria animada.

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