quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Sobre a autoreferência - Existir é uma contradição

É possível definir o que é verdade? Na aritmética, com certeza 1 + 1 = 2, mas existe um Teorema, chamado 'Tarski's undefinability theorem", que diz o seguinte:

"arithmetical truth cannot be defined in arithmetic"

Ora, se não pode ser definido lá, de onde vem? Do universo, você responde, pois nele estão as leis da lógica na forma de processos naturais. Mas é a matemática que segue as leis do universo, ou o universo que segue as leis da matemática?

Quem acredita que a matemática é uma descoberta, compactua com a primeira afirmação. Os que acreditam que ela é uma linguagem, como eu, preferem a segunda.

"No sufficiently rich interpreted language can represent its own semantics"

A matemática não consegue explicar sua própria existência. Essa afirmação faz parte do teorema citado anteriormente. Ele abre a porta do desconhecido na aritmética através de um paradoxo muito interessante, que da origem ao conceito de números indefinidos. Como diversos outros teoremas da lógica (a aritmética da linguagem) ele foi provado por contradição. Da prova surge um tipo especial de número, algo que faz a divisão por zero parecer normal.

"undefined numbers"

Sim, números indefinidos, não confundir com as indeterminações do cálculo diferencial. Os números indefinidos surgem apenas das afirmações que geram contradição na aritmética de primeira ordem. Eles são como a materialização dos paradoxos, é possível falar sobre eles, mas ao falar, se gera uma contradição. Para que a contradição deixe de existir e a matemática volte a ser consistente, é necessário expandir a matemática para uma metamatemática.

Quando você tenta definir algo, precisa utilizar uma linguagem para isso. Logo, já podemos dizer que a condição necessária para definir algo é que primeiro exista uma linguagem. A linguagem é algo que permite falar do que está sendo definido. Quando você tenta falar das propriedades da línguagem utilizada para fazer tais definições, uma nova forma de linguagem é criada, a metalinguagem. A metalinguagem tem de ser mais ampla do que a linguagem em si para poder fazer afirmações sobre. A metalinguagem da matemática é a lógica. O problema é que toda a lógica é pura matemática, existe um homeomorfismo que permite estabelecer uma relação um-para-um entre ambas, a consequência disso é que a matemática não consegue sair de si mesma. O mesmo ocorre com qualquer outra linguagem, até com a gente. Nós também não conseguimos sair de si mesmos, por isso, toda e qualquer definição que fazemos de nós é passível de contradição, pois sempre que uma linguagem fala se si própria, pode gerar paradoxos (ver Teoremas da Incompletude de Godel).

"Essa frase é falsa"

(A frase é verdadeira? Pois então ela é falsa.)
(A frase é falsa? Pois então ela é verdadeira.)

Vamos definir um número contraditório - um número paradoxal - utilizando a linguagem natural. Apreciem o Paradoxo de Berry (traduzido e adaptado numericamente ao português por mim mesmo).

Imagine o seguinte número: "O menor número inteiro positivo que não pode ser escrito com menos de oitenta letras"

Exemplo um: 11 (onze) é um número inteiro, mas é escrito com apenas 4 letras, logo, 11 não pode ser o número ao qual a sentença se refere.

Exemplo dois: 845.558.978 (oitocentos e quarenta e cinco milhões, quinhentos e cinquenta e oito mil, novecentos e setenta e oito) é um número inteiro e tem 83 letras. Poderia ser esse número? Sim, ele obedece as duas condições. Primeira: ele é um número inteiro; segunda: não pode ser escrito com menos de 80 letras. Mas será que ele é o menor dos inteiros que obedece essas duas condições? Provavelmente não.

Qual é esse número não interessa, você percebeu que ele existe, e o mais importante, percebeu que ele é único, pois só existe um MENOR inteiro que não pode ser escrito com menos de 80 letras. Vamos chamar esse número de N. 

Agora leia novamente a definição de N: "O menor número inteiro positivo que não pode ser escrito com menos de oitenta letras". Vamos chamar essa definição de L (L⇒N). Se você contar, L tem apenas 70 letras. Mas o número que L define "não pode ser escrito com menos de oitenta letras", mas veja que L, ela própria, é escrita com menos de 70 letras, e ela define um número! S não pode ter menos de 80 letras, mas tem, pois a definição de S é L, que tem 70 letras. 

O que L está dizendo é o seguinte: eu não posso ter menos de 80 letras, mas tenho. Nosso número é paradoxal porque L faz referência a si própria. L tenta (e consegue) definir um número utilizando a quantidade de letras do número, mas quando fazemos isso com L, utilizando a quantidade de letras dela, ela prórpria não obedece a si mesma.

Agora imagine a função Conta Letras (CL), por exemplo: CL(2) = 4, pois 'dois' tem 4 letras. Agora, vamos aplicar CL em L. CL(L) = 70. Pois L tem 70 letras. Mas L⇒N. Então CL(L) = CL(N). Só que CL(N) ≥ 80. É impossível que:

CL(L) = CL(N),
CL(L) = 70, e
CL(N) ≥ 80.

Nossa linguagem não é formal como a lógica. Todos sabemos que ela permite criar paradoxos por autoreferência, o legal é que a matemática também permite criar paradoxos, pois tudo que é capaz de expressar recursividade, é passível de contradição. Alguém pode dizer que isso talvez essa seja uma limitação das palavras, mas aí é que tá, não é. Gödel fez isso na matemática, tentou definir ela por ela mesma. O resultado foi o Teorema mais fudido de todos: os Teoremas da Incompletude de Gödel.

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Sobre as árvores

Para conversar com as árvores é preciso um cigarro. Só quando se está livre dos pensamentos é possível conversar com elas. Tudo desaparece, a biologia, os sentidos rápidos. Assim encaro as árvores como os seres mágicos que realmente são.


Tudo sabem esentem no seu perímetro, seres sábios, autosuficientes, profundamente conscientes da Terra e do Sol. Tão completas que nunca fazem filosofia. Ou se fazem, não sabemos. Basta-lhes que o sol exista para que possam existir. Em teu sagrado lugar, árvore, tu reina e es capaz de passar séculos ali! Séculos só existindo no mesmo lugar!

Possuem a forma dos fractais.

O quão lúcido Godel estava quando disse que são os seres mais inspiradores que existem. Se a reincanarção for verdade, que eu volte ao mundo como uma árvore. Quero saborear a Terra e o mundo em profundas raízes. Quero ter milhões de folhas para sentir o Sol em toda parte, centenas de galhos para me espalhar pelo espaço e raízes sinuosas que façam os chãos racharem. 


Mato insetos e não sinto absolutamente nada. Mas se uma raiz é arrancada do solo, me parece que rasgam o próprio mundo. Que pecado é arrancar uma árvore de seu sagrado lugar. 




terça-feira, 11 de junho de 2024

Inspiração do mundo opaco

Filosofias, versos vaidosos, pensamentos que imagino só eu ter pensado. Tudo isso escrevo. Billhões pensam todo dia mil milhões de coisas, e o quê, dentre todas estas coisas, terão meus pensamentos de especiais?

Vejo-me defronte a uma propaganda que escandaliza da pior forma aquilo que mais quero. Esse espéctro faminto se infiltra por toda parte, como demônios, conhecem todos os nossos desejos e alimentam-se da nossa solidão. São insaciáveis por natureza, pois sua origem é o capital. 

Juntos a estes miseráveis anúncios está sempre associada alguma tecnologia ou ciência de ponta. Quando isso me é apresentado, sinto como se um raio partisse a minha mente, matando em mim toda a inspiração que alegremente obtive sem querer obter. Mas toda vez que quero escrever, preciso passar por este inferno. 

De frente para a tela me torno fosco igual a ela. Reflito amargamente por só escrever coisas úteis. Queria poder escrever coisas inúteis, coisas que tornassem insanas mais ilúcidas mentes apagadas pelo contidiano, coisas que inpirassem sonhos incestuosos e utopias anárquicas em regimes totalitários.

Como um amante da tecnologia, sempre idolatrei a ciência, a matemática e a engenharia, mas hoje desejo me libertar da ciência para qual dediquei a minha vida. Que respostas eu encontrei? Tudo o que acho são ainda mais perguntas do que respostas, mais crises do que crenças, mais incertezas do que convicções. Isso gera em mim um relativismos que arranca tudo do lugar, em nada consigo ser consistente porque em nada encontro o inabalável. 

Estou saturado de tanta metafísica, exausto de pensar essa vida logicamente. Boa parte da vida fui insensível, estúpido ao ponto de procurar sentido em músicas e poesias. Eu quero ouvir o Abujanra recitar Tabacaria no Jornal Nacional. Surtar falando com árvores que o melhor da vida é inexplicável.  Explicar como ser uma árvore e florescer em todos os planetas do sistema solar.

Em sonhos sempre me vejo adolescente ou criança. Ali nunca fiz filosofias. Se fiz, não percebi que fazia. Queria viver novamente aquele período e se apaixonar por personagens fictícios. Morrer de amor pelo banal.

Queria ficar doente e sentir o cuidado dos pais. Os problemas do mundo, os prazos, as burocracias, são todos pequenos diante de uma música ou de um cigarro. Fumar é ter a liberdade de não pensar em nada, somente sentir.

Penso que a Palestina e os isrraelenses vão todos se matar dando início a uma terceira guerra mundial, mas não sinto nada. Na verdade, torço para que a Europa toda se exploda. O velho mundo afunde e não caia um só pedaço no meu quintal. Os que nunca entraram numa guerra deveriam ser postos numa jaula para lutar até a morte contra crianças. 

Eu sou jovem ainda? Não. Mas tenho a força de um jovem, a burrice e sensibilidade de um adolescente. E quando chegar aos cinquenta anos, sentirei saudade dos 28, aí perceberei que hoje eu sou um covarde, para quando chegar aos 50, dizer que preciso de mais 20 anos para respeitar a vida.

Adulto de mente adolescente. Quero ser velho com mente de criança. Andar na beirada de um poço, se pendurar na beira de um penhasco. A salvação é pelo risco, sem o qual, a vida não vale a pena.

domingo, 9 de junho de 2024

Sobre a Dor - Ingrediente Mágico

Ingrediente Mágico

Todo poeta é um vagabundo,
Ele tem mesmo é que se foder,
Para expressar a dor do mundo,
Apaixone-se cedo com o sofrer.

Até sentimentos improfundos,
Devem em ti causar vaidosa dor,
Pois este é teu pano de fundo,
E dos poemas, o catalizador.

Os que sofrem pouco nesta vida,
Têm a inspiração desprovida,
Da salgada lágrima de choro.

Ignoram o ingrediente trágico,
Da poção, o acréscimo mágico,
Dos poetas, o supremo ouro.


A vaidosa dor.
 
Arte artificial.
"The fallen angel of the abyss, Lucifer, weeping with shattered stars in the background, featuring dramatic lighting in the art style of Alexandre Cabanel"

quinta-feira, 6 de junho de 2024

Sobre a mediocridade - O fracasso é libertador

Somente pode-se começar algo sendo medíocre. Nisto você terá toda a liberdade do mundo. Você é livre para ser medíocre no que quiser, mas não é livre para ser bom no que quiser. Para dar luz a algo significante ninguém pode ser feliz durante o parto.

Fracassar, fracassar centenas vezes. Idolatrar a dor. Lutar como entre a vida e a morte. Perseguir um objetivo como um fanático busca por Deus. Descobrir que Deus pode não existir e suportar o peso da indiferença do universo. A possível não existência da resposta. Contentar-se em nunca chegar ao fim.

Talvez, saber que o fim não existe, mas procurá-lo mesmo assim.

domingo, 2 de junho de 2024

Sobre não pensar

Fumar maconha boa, de qualidade,

É um dos segredos da felicidade.

Falar, tomar café e dar uma cagada,

Nisto toda a vida é renovada.


Soneto - Panificadora

Resolvi escrever um Soneto,
Chamei-o de Panificadora,
Para falar dos desassossegos,
Que me causa Fernando Pessoa.

Escreveu ele Tabacaria,
Escrevo eu Panificadora,
No café sutil das hiperestesias,
A alucinação me aperfeiçoa.

Fumo, sento-me na praça a tarde,
E pelo espelho da modernidade,
Vejo girar a alma dos carros,

Ali sinto que Augusto dos Anjos,
Pessoa, Euclides e outros tantos,
Viram Deus na fumaça de um cigarro.

sábado, 1 de junho de 2024

Sobre One Punch Man - A ironia do infinito

One Punch-man é um manga espetacular que explora a ironia do existencialismo diante daqueles que se deparam com o poder infinito. 

Após procurar por emprego, Saitama, personagem principal, ficou careca e se tornou tão forte que resolveu trabalhar como herói. Nosso herói por profissão - no manga é uma profissão - é tão forte que não consegue sentir prazer em nenhuma das lutas que se envolve, contudo, continua sendo uma pessoa extraordinariamente normal.

One Punch Man é a maior lição de humildade que já vi em alguma obra. A série investe no clichê dos contos heróicos, apresentando vilões e heróis que enchem o peito para discursar sobre suas motivações vaidosas. Heróis bonitos, de cabelos longos, com força sobre humana, alguns rápidos, outros frios, do clássico velho mestre de artes marciais ao ser supremo de outro universo, One Punch Man mostra que no fundo, Eclesiastes estava certo "Vaidades das vaidades, tudo é vaidade."


No sistema do governo, que separa os heróis em classes bem explícitas de poder, está implícita uma forte crítica ao que é o ideal de heroismo. Os autores da série fazem questão de mostrar que o sistema é corrupto e injusto. Alguns heróis famosos são escrotos e se preocupam demais com status, enquanto um dos mais fracos apresenta forte determinação. Contudo, mesmo os heróis que aparentam ser justos, em algumas situações - quando ninguém está olhando - mostram que também buscam por poder e reconhecimento, mesmo se esforçando para demonstrar o contrário.

No meio disso tudo está nosso protagonista principal, Saitama, que está mais preocupado em saber qual é o dia da promoção de carne no supermercado. 

Saitama é uma espécie de personagem que não possui vaidades, mas apenas porque ele próprio não têm conciencia disso, pois caso refletisse sobre, é bem provável que se vangloriasse por ser um total desconhecido.

Entenda: se orgulhar de não ser vaidoso, também é ser vaidoso! Esse é o paradoxo da vaidade que inspira a primeira frase do texto de Eclesiastes. Se orgulhar de fazer o bem, querer que os outros vejam o quanto você é honesto, buscar qualquer tipo de reconhecimento, não importa o quão boas sejam suas ações, é ser vaidoso. Por isso Santo Agostinho disse que por vaidade também é possível obrar o bem, embora esta seja, segundo São Tomás de Aquino, a origem de todos os outros pecados.


Ao longo da série, Saitama acaba se envolvendo com vários herois e vilões que se escandalam diante da sua força intangível. As reações, seguidas de morte, caso você seja mal, são dignas de nota. Primeiro, porque ao se deparar com algo que os supera infinitamente, vilões e heróis se dão conta de suas vidas insignificantes. Segundo, porque diante da força irrazoável de Saitama, não importa o quanto você sofreu ou se esforçou, ninguém tem o direito de ser um cuzão com os outros. Caso você seja, um soco na sua cara resolverá o problema, e apenas 1, caso ele queira.

Para os heróis, de vaidade superior a dos vilões, é ainda mais cômico observar suas reações, pois quase todos na série se acham mais importantes do que são.

Um dos heróis, um ciborgue chamado Genos, quando viu o soco de Saitama pela primeira vez, quase teve uma sindrome de Sthandal (estado de êxtase diante da arte capaz de fazer você desmaiar). Como resultado, Genos observa, anota e segue cada ação de Saitama, implorando-o para que lhe adote como um discípulo. Contudo, Saitama não é exemplo para absolutamente nada, não fonte de valores, pois não está ciente da sua própria condição de humildade, nem é fonte de conhecimento, pois ele não sabe como conseguiu a própria força.


O tédio de Saitama se tornou muito profundo, para ele não faz sentido mostrar a alguém que é forte, chega ao ponto de ele nem mesmo se importar que outra pessoa receba todos os méritos por as suas vitórias (King, estou falando de você). Tudo isso é extremamente cômico de se assistir, pois as situações são encaixadas de forma genial na trama de um Careca, que a propósito, não gosta de ser chamado de careca (lhe entendo, Saitama, pois fiquei calvo aos 25 anos).


Um dos vilões da série me chocou de forma hilariante. De forma bem verossímil, sua motivação para o mal foi procurar por emprego. Quem já ficou sem emprego conhece o desespero e o desrespeito que passamos se prostituindo das piores formas possíveis para conseguir um sustento digno. É muito pior do que qualquer vestibular. No reino das empresas, você nem sabe se passou.


One Punch-man explora de forma maravilhosa o prazer que temos ao ver a humilhação dos arrogantes. Lembro de Eclesiastes e a vaidade me ataca, pois o escândalo dos grandes caindo do pedestal é algo que me enche de alegria. Despencar no abismo do nada, conhecer o fundo do oceano, se embasbacar diante do infinito. Reduzir tudo ao insignificante. Retornar ao pó. Do herói ao vilão mais poderoso, One Punch-man é extremamente cômico ao mostrar as crises que nosso querido Careca de Capa desperta nos outros ao mostrar que do mais simples dos personagens surgem as maiores surpresas.

 

Não sei como terminar esse texto, mas faço um brinde ao nosso herói careca. Sem detalhes espalhafatosos. Anônimo. Que não incomoda ninguém. Tão simples que pode ser desenhado por uma criança, e apesar disso, One Punch Man tem das uma artes mais magníficas que já vi na vida.

A propósito, a recriação mais realista do  núcleo de um planeta gasoso foi desenhada por Yusuke Murata. E eu falo isso com propriedade, pois meu TCC foi sobre dinâmica planetária. 






 

sexta-feira, 31 de maio de 2024

Sobre a vida

A vida é um cigarro e o resto é fumaça.

Em geral, só tem inspiração quem se fudeu muito na vida. Por isso que a burguesia é burra.

quarta-feira, 29 de maio de 2024

Sobre o Vazio do Nada

Para que o nada pudesse existir, seria necessário que a realidade não existisse.

Mas se a realidade não existisse, não existiríamos. Portanto, a condição necessária (mas não suficiente) do nada existir, é que não existíssemos.

Logo, o nada só existe como ideia quando falamos dele. Não há, na natureza, algo que encontre correspondência com o vazio. Não existe vácuo perfeito, apenas probabilístico. Independentemente da tecnologia, a Mecânica Quântica não permite que o vazio nos seja apresentado. Isso foi demonstrado pelo vácuo quântico (pressão negativa que surge por flutuações de partículas e antipartículas entre duas superfícies próximas).

O nada é belo. 

É infinitamente simétrico, dado que não possui nada para restringir suas simetrias. É infinitamente vasto, pois não existe para poder ser medido. É infinitamente profundo, pois só existe quando tudo deixar de existir. E é eterno, pois para que seja, necessita que o tempo não seja.

Sobre a Tradução - Traduções perfeitas são Impossíveis

Para cada fonema existem múltiplas combinações de consoantes e vogais que o geram. De forma inversa, combinações diferentes entre consoantes e vogais podem gerar fonemas iguais. Como não é possível estabelecer uma relação um-para-um entre fonemas e letras, estão, estamos diante de uma função bijetora.  As funções bijetoras não admitem inversas, para cada entrada podem existir múltiplas saídas (por exemplo, a função W de Lambert). Disto decorre que traduções perfeitas entre línguas não podem ser obtidas por uma modelagem matemática (por exemplo, não podem aprendidas por uma IA). 


Contudo modelos de tradução como o Deep.L são aproximações tão boas de tais funções, que me pergunto se os limites da lógica não poderiam ser ultrapassados por uma IA suficientemente profunda. Em geral, computadores não são capazes de suportar a contradição, mas Gödel demonstrou que a lógica não é tão bem delimitada assim.


Se assumirmos que existem infinitos axiomas para se construir a matemática, então, provavelmente seja possível a uma IA aprender certa matemática mais abrangente que a nossa. Uma possível prova disso seria se uma IA especializada em demonstrações matemáticas fosse capaz de demonstrar um problema já provado idemostrável na matemática atual.

Sobre Transceder a Lógica

A única verdade absoluta é que:
Não existe verdade absoluta. um paradoxo.

Contudo, se eu estabeleço que a única restrição desta setença é que ela contenha a excessão de si mesma, então o paradoxo não existe mais. Basta que vazio faça parte do conjunto. Por isso todos os conjuntos contém o elemento vaio. O conjunto formado por todas as verdades absolutas contém um só elemento: não conter. Logo, tudo parte de uma definição. Isso exige duas coisas, linguagem e ação.

A matemática se livra da contradição ao adimitir a escolha (https://pt.wikipedia.org/wiki/Axioma_da_escolha). Algo possível por quem detenha primazia. Eu, você, alguém.

Nada é completo em si próprio, talvez o vazio/nada o seja. Mas isso nos leva a outra contradição, pois o vazio não pode ser algo. Novamente, é com uma definição que conseguimos definir o nada. O nada, em si, é o mais puro paradoxo. O nada somente pode ser, não sendo.

O elétron colapsa em onda ou partícula por causa da medição. É necessário o observador. É necessária a interferência. O que ele é antes de medir? Tudo e nada. A probilidade de sua posição é assintótica de um extremo ao outro em todas as direções (3D gaussian).

A matemática somente pode ser algo diante de alguém. A realidade só pode existe para quem a percebe. Essa incompletude fundamental foi demonstrada na matemática pelos Teoremas da Incompletude de Gödel, mas não pode ser demonstrada na realidade, pois seria preciso sair dela para que se fosse possível. Chamemos de realidade R1 a primeira, e de realidade R2 a que contém a primeira. Se a demonstração funciona em R1, pelo segundo Teorema da Incompletude, o mesmo pode ser demonstrado em R2. E assim sucessivamente. A realidade, para ser consistente, necessariamente tem de ser incompleta.

Como bem sabia René Descartes, a única coisa que está além da dúvida é a própria dúvida. Ainda que eu seja uma simulação dentro de infinitas outras simulações, ao pensar eu afirmo minha existência. 

Como disse Morpheus, que vivia na Matrix, e sabendo que a sua própria realidade poderia ser outra simulação "Tudo começa com uma escolha".

Não existe causa e efeito na escolha. É a mais objetiva aleatoriedade, como uma flutuação quântica do vácuo, apenas existe, sem que nada seja necessário para a sua existência. 

Para que eu transcenda a lógica basta que eu me levante.

terça-feira, 28 de maio de 2024

Soneto - Matematicalismo

Matematicalismo

A Matemática nunca me permite,
Desdaltonizar minha consciência,
Pois os infinitesimais limites,
Somam-se em sinistra convergência.

O plano que orbita pelo abstrato,
Cálculo dos limites no infinito,
É fronteira de explícito adstrato,
E de inequívocos indefinidos.

Lagrange, Legendre e Laplace,
Que a onisciência voz abrace,
Por desvendarem o infinitesimal.
 
Mas hoje sofremos com os paradoxos, 
Dos limites menos ortodoxos,
Intratáveis na regra de L'hospital.




sexta-feira, 24 de maio de 2024

Sobre envelhecer

Aos 28 anos me sinto envelhecido. Não só na aparência já totalmente calva, mas me sinto deslocado entre jovens. Que inferno é isso? Que cansasso me aflige quando sou forte? Quando me envelheci?

Desenvolvi sensibilidade tardiamente. Não conseguia entender poesia alguma na adolescência. Toda poesia me parecia sem sentido. Me perguntava para que servia um poema, nutria certa raiva de poetas, pois achava todos uns inúteis que escreviam coisas sem sentido.

Hoje sinto que me afligem hoje os sentimentos que deveriam me afigir na adolescência. Sinto uma adolescência tárdia. Toda música me comove, e alguns pensamentos vêm como sonhos. Sinto demais por não ter sentido, tanto quanto, quando deveria ter. Sinto uma espécie de adolescência que precede a velhice. Tão cedo me enxergo idoso, que imagino a solidão e a tenho preguiça de enfrentar. Prefiro passar meus fins de semana sozinho.

É triste não se compadecer da dor do outro? Estou morrendo por dentro. Penso cada vez mais em mim e menos nos outros. Os sentimentos também envelhecem. Acho que encontrei a resposta da pergunta que eu fazia aos adultos: quanto mais velho, mais difícil é se apixonar. 

quarta-feira, 22 de maio de 2024

Sobre a Alma

Música?
Notas.

Matemática?
Fórmulas.

Poesia? 
Rimas.

Você?
65 % oxigênio.
18,5 % carbono.
9,5 % hidrogênio.
3,2 % nitrogênio
1,5 % cálcio
1 % fósforo


Resposta que mais me acalma,
Sublime contradição dos objetos, 
Triângulo secreto da alma,
Ilógica dos paradoxos discretos.

Rígidas leis de exata natureza,
Na tua suprema conjuntura, 
Como possuis holística beleza,
Como pode haver formosura?

Se es soma maior que todas as partes, 
Também és tu, todas as supremas artes,
Ultrapassa todas as nossas culturas





domingo, 19 de maio de 2024

Deus da Sacanagem

Se os sonhos são as janelas do nosso inconsciente, o que significa o sonho que tive hoje? Já foi sonhado outras vezes, o que me assusta ainda mais. Comi minha irmã, calada, não dizia nada enquanto eu lhe despia. Quando meu consciente desperta, lembro dela. Acordado não sinto absolutamente nada. Sinto até repulsa. Ela não tem uma só característica física que aprecio e busco nas mulheres que almejo. Baixa estatura, sem definição, pouco cabelo, sem interesse por questões científicas ou metafísicas, pouca agilidade em tecnolgia e calva antes dos 30 anos, como eu. Gostaria que meu subconsciente explicasse isso. 


Que profundo enigma da mente. Sentir duas coisas tão contrárias no mesmo ser. Sempre essa maldita contradição, parece-me que sou perseguido por paradoxos desde a infância. Me dou conta que desde novo sou apresentado a conteúdos que exploram absurdos, da Mecânica Quântica ao subconsciente, da matemática não euclidiana aos teoremas da incompletude  de Gödel. Me recordo de jogos em múltiplas dimensões, filmes de viagens no tempo, livros sobre a Teoria do Caos e músicas sobre sob alucinógenos.


Hoje me sinto na Ilha do Medo, limites entre a lucidez e a loucura se tornam cada vez mais tênues. Me vejo mais calvo, talvez, por que envelheci 10 anos para além de minha idade e aparência. Sinto que finalmente estou embriagado com o mar de existencialismo no qual foi naufragada a minha vida. 


Em sonho sou uma coisa, acordado, sou outra. Não deveria ser possível sentir sensações opostas ao mesmo tempo. A descoberta do inconsciente está para a psicologia como o átomo está para a Física. Pilares fundamentais de ambas ciências, em vez de fornecerem solidez e consistência, romperam com a estrutura do pensamento humano. Não bastasse isso, em 1924 Godel cartografou o paradoxo para dentro da matemática. O golpe foi belo e poderoso, com a força de um Teorema, contradisse a mais sólida lógica. Dentro da aritmética, Gödel encontrou uma fórmula que diz: eu não posso ser provada e sou a prova de si mesma.


Nascem os Teoremas da Incompletude prestando à Matemática o mesmo serviço de disrrupcão que o inconsciente e o átomo prestaram à Psicologia e à Física. O que todas estas revoluções tem em comum? Elas retornam o ser humano para o nada. Escancaram o vazio que existe dentro de nós, que encontra correspondência na contradição. Disrrupturas, paradoxos do simultâneo, do ser e do não ser (onda/matéria), do sentir e não sentir (consciente/subconsciente), do poder não ser verdadeiro nem falso (completa/inconsistente).


Kierkegaard, Durkheim, Froid, Jung... a consciência é um problema insolúvel de nossa parte. Que melhor experimento de demonstração para isso do que ler Fernando Pessoa? Dezenas de Pessoas que nunca existiram escritas pela mente do sonhador, pessoas que conversam, choram, brigam, todas num único sonho de uma única pessoa que não existe.


Deve-se deixar de pensar nessas coisas o mais rápido possível. Temo que as singularidades das quais falamos invocam vórtices que engolem tudo como um buraco negro em nossa mente. Esse aprofundamento na contradição causa rupturas sinistras no tecido da nossa personalidade. Temo ser levado para lugares onde a lógica e o social não valham mais que qualquer coisa. Quem sabe esse processo esteja a ocorrer no exato momento em que escrevo isso. Quem sabe seja Deus um tremendo sacana que ri da nossa crise existencial. Um Deus da sacanagem. Que busque levar todos os seres humanos para a mesma miséria existencial, só para ver até onde vai a loucura. Se eu fosse Deus, faria isso.

terça-feira, 14 de maio de 2024

Sobre o Desassossego de Pessoa

É certo que Pascal, Pessoa e Eclesiastes, chegam, por meios distintos, nas mesmas conclusões, que não concluem nada. Nem sabem se chegam, ser chegada no indestino, uma ponte construída entre dois mistérios, onde o início e o fim das coisas não podem ser concebidos. Sabemos todos que morreremos, mas e se ficamos? Saímos da vida? À vida nem mesmo podemos dizer se realmente existimos ou se ela sonhamos.

Caímos! Todos no mesmo vazio existencial. Sustentamos diferentes visões, que podem não ser nossas, poder ser sonhos sonhados por outro, e mesmo assim você faz as mesmas perguntas: para onde vamos? Quem sabe vamos desaparecer em contradições que não entendemos num universo que não concebemos. Somos lógica contida na matéria, estranha matéria capaz de contorcer-se com a não dor física do pensamento, que buscando as origens do pensar sente dissolver-se em gradientes cinzentos de devaneios. Dores da razão, como uma solução panteisticamente espalhada pela eternidade na esfera de raio infinito cuja superfície não se observa e o centro está em toda parte. Não se encontra, não sabe nunca, não consegue ser nada e nem o nada consegue definir. 

Sofrerá até a morte do universo, quando todos os nossos átomos se desintegrarem, quando o tempo não puder mais ser medido, quando de nós restar somente a energia indistinguível de tudo mas que nada realiza, aí, talvez, o próprio universo reinicie na flutuação mínima da mesma pergunta: porque existe algo inves de nada? No vazio e do nada, do início de qualquer coisa surgida, ali estará a tua resposta, Pessoa, que levou a eternidade para se fazer, no infinitésimo do espaço e no vácuo do tempo, alguma coisa deixou de ser para se tornar outra coisa. E depois? Pensar, pensar tudo de novo em milhões de mundos simultaneamente, em todos os seres, ver o universo fatigar-se de ser tudo para às mesmas conclusões: nem uma coisa nem outra. Apenas sonhos, sonhos da matéria animada.

quinta-feira, 9 de maio de 2024

A Sombra (soneto em andamento)

Por trás dos sonhos esquecidos
Reprimidos em nosso inconsciente
Surge a sombra, de dia, ausente
Que a noite assola nossos juizos.

Se te levantas surpreso e assustado
Com sonhos que não compreende?
Enterrados em teu subconsciente,
Estão sentimentos somatizados.

domingo, 21 de abril de 2024

Sobre a perfeição

Se algum dia a perfeição for encontrada, seja ela um objeto, um ser ou um ente qualquer, se sucederá uma autosabotagem por parte de quem a encontrar, pois não acredito que o ser humano possa se imaginar capaz de merecer algo perfeito.

Tive a perfeição em meus braços e me sabotei de uma forma tão patética, mas tão ridícula, que a mim não deveria ser concedida a felicidade. E ainda assim me encontro rindo pelas ruas como se fosse o mais feliz dos ignorantes.

O que eu sou? Infantil e narcisista. 

Ter tudo ao meu dispor causou em mim um sentimento de não se sentir à altura do que possuía, nisso começou minha jornada de autossabotagem.

Busquei adicionar à perfeição, como se fosse possível adicionar algo àquilo que já é completo, o que na verdade faltava em mim.

Não consegui. Me revoltei. A menosprezei.  Por uma insegurança minha, a culpei.

Abri um buraco no qual eu mesmo pulei dentro. E já sabia, desde o início, que isso terminaria assim. Até disse ao meu eu do futuro: isso não vai te matar, mas vai te deixar mais forte.

O narcisista, prevendo a queda por saber que é patético, ainda assim, a alivia com a esperança de que isso lhe fará bem.

Maldito narcisista. 

segunda-feira, 18 de março de 2024

Sobre Godel e Pascal - Um soneto


Indemostrabilidade


Sutil contemplação da natureza,
Tu não podes ser epistemológica,
Pois é inconsistente à beleza,
Uma demonstração pela lógica.

Na função inversa da resposta,
Tu vens encher-me de incertezas,
Como eu canso de procurar supostas,
Contradições na tua clareza.

Pego à mão todas as ciências,
Pergunto para à omnisciência,
Qual é a tua constituição?

Ela diz: eu sou a formidável,
A conjectura indemonstrável,
Teu esforço último da razão.

Contexto:

        Escrevi esse poema pensando nos Teoremas da Incompletude de Gödel. Gödel demonstrou rigorosamemte que a matemática, mesmo na sua forma mais pura, a lógica aritmética, não está livre de contradições. Uma eterna incompletude. Como demonstrou? Pela contradição infinita da autoreferência. A conclusão do Teorema, na minha opinião, eleva o contraditório ao exemplo mais belo do pensamento humano. É difícil suportar contradições, eu já fiz muita gente sofrer profundamente por ser contraditório (leia-se falso). Mas é prazerosa a descoberta do infinito possibilitada através das contradições. 
        Saber que nunca saberemos tudo o que pode ser sabido me faz idolatrar a dúvida. O destino final é que não existe destino final. Incompleta sempre. Jamais perfeita, jamais fechada, sempre idelimitada, tal qual nosso pensamento, o único sistema capaz de suportar uma contradição. 

        O ser humano é definido pelo contraditório. Se o conhecimento fosse finito, que faríamos nós se o encerrássemos? Encerrariamo-nos ali!

Louvado sejam os Teoremas da Incompletude de Godel, autor da mais profunda Crise Existencial, senhor da contradição, da eterna incompletude.
        Viva eternamente, Gödel.

sábado, 16 de março de 2024

Soneto - Paraboloide Hiperbólico




Um matemático sexagenário,
Nomeou um objeto, melancólico,
Chamou paraboloide hiperbólico,
Foi adicionar ao dicionário.

“Essa matriz combinatória prova,
Em espaço de sílabas versoriais,
A forma das soluções integrais,
Que nomeiam a palavra nova.”

Disse o velho este lero-lero,
Soando igual divisão por zero,
Em sílabas gramaticais sebosas,

Pois o inverso fenomenológico,
Dito hiperboloide parabólico,
É outra palavra libidinosa.

Soneto (Anjos Augusto)

 

Canta teu riso esplêndido sonata,
E há, no teu riso de anjos encantados,
Como que um doce tilintar de prata
E a vibração de mil cristais quebrados.

Bendito o riso assim que se desata
- Citara suave dos apaixonados,
Sonorizando os sonhos já passados,
Cantando sempre em trínula volata!

Aurora ideal dos dias meus risonhos,
Quando, úmido de beijos em ressábios
Teu riso esponta, despertando sonhos...

Ah! Num delíquio de ventura louca,
Vai-se minh'alma toda nos teus beijos,
Ri-se o meu coração na tua boca!

Soneto em andamento: Onironalta

Onironalta da omnisciência, 
O que desejas sonhar?
Olhe fundo para a consciência,
Qual inconsciente queres libertar?

Os sonhos através das crenças,
Em murais insanos de sentimentos,
Mostram à mente os tormentos,
E desejos de estórias intensas.

Se exibem durante a noite, esses 
Fantasmas que se escondem se olhados 
Ando me perguntando, 
meu Deus do céu,
com o que eu ando sonhando?

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Sobre voar artificialmente


Varios botões, alavancas de controle, indicadores analógicos, alguns digitais, e um nome acima das telas: "Garmin", não acreditei. A familiar fabricante dos GPS que tanto estudei é a mesma que faz o sistema de posicionamento do bimotor? Centralizado na tela, um ângulo: era o azimute da direção. Andava no piloto automático e corrigia sua trajetória constantemente. Na minha mente imaginava a unidade de movimento inercial (IMU) corrigindo rolagem, arfagem e rumo várias vezes por segundo. Ah, esses malditos ângulos, roll, pitch e yall, quantos cabelos perdi no mestrado para entender vocês?


Imaginei a fusão dos dados de GPS e IMU pelo Filtro de Kalman, imaginei matrizes de rotação convertidas em quatérnios para evitar Gimbal lock, imaginei dados RINEX chegando às antenas em dupla frequência. Não precisei imaginar as imagens do terreno em 3D Shuttle RADAR (SRTM), pois elas estavam lá na minha frente. Giroscópios, fusão de sensores e climatologia.
Meu Deus, como é maravilhoso a tecnologia. Tão extranatural. Fingi naturalidade para conter a emoção na frente do piloto. Se pudesse, faria umas mil perguntas a ele, mas selecionava cuidadosamente cada uma delas para não perder nenhuma oportunidade.

Sobre o por do Sol



Seria a música, notas? A matemática, fórmulas? E a poesia, rimas? No alheamento da tarde, prendo a orquestra de chamas do céu em uma imagem. Você consegue ouvir? O todo é bem mais que a soma das partes. A estranha beleza, que se esvai no explicar, continua sendo em nós o motivo de viver, pois são limitadas as formas de descrever... o idelimitado modo de sentir.

Sobre as mulheres (por Matias Aires)




Matias Aires sobre a condição das mulheres em seu livro Reflexões sobre a Vaidade dos Homens (1730).

"(...) A vaidade e ciúme dos homens acusa as mulheres ainda antes de nascerem. As mesmas partes são juízes, por isso logo vão prevenindo os cárceres, para onde destinam aquelas infelizes, e para onde as conduzem, antes que elas se conheçam, e poucos anos depois que nascem: assim devia ser. Ali se vão acostumando aos ferros, à maneira de uma fera prêsa, que já não sente o peso da cadeia, antes com ela joga e se diverte, à proporção que a arrasta, e move. Prendem-se as feras, e também se prendem as mulheres; aquelas por causa da braveza, estas por causa da mansidão; aquelas porque se enfurecem, estas porque se enternecem; aquelas porque assustam, estas porque agradam; umas porque é necessário fugir delas, outras porque é necessário que elas fujam, e finalmente umas porque matam, e outras porque dão vida. A prisão, com pouca diferença é a mesma, os motivos são contrários. Do fundo de um deserto inculto se vão desentranhar as feras; prendem-se para que não façam mal; este é o pretexto, porém a verdade é que se prendem as feras, para que sirvam de recreio, e também de lisonja à vaidade em ver sujeito por indústria, e arte, aquilo que não se sujeita por fôrça, nem vontade."

Sobre o Augusto pensamento



Quando leio Augusto dos Anjos,
Perco o medo do escuro,
Vem-me à boca um gosto obscuro,
De um afogado a tomar banho.

Esse incomum estado estranho
Do corpo excitado no alerta,
Faz cuspir o infame esperma,
Se regozijando em novo ganho.

Mantendo a face em baixo d'água,
Vem-me a profunda reflexão n'alma,
A tal dopamina foi-me embora,

Lá fora a chuva a soprar o vento,
E dentro D'agua me livro do tormento,
Parto então para banhar lá fora.



Gozei esse soneto após um banho de chuva e uma bronha.